Recentemente a Revista da SET entrevistou vários membros da Industria e do Forum ISDBT, sobre o andamento do Switch Off da TV Analógica , esse é o resumo de minha participação
Qual sua
opinião sobre o andamento do Switch Off da TV Analógica?
O Switch off no mundo todo sempre foi uma questão
polemica , seja pela diferença do planejado e realmente realizado, seja pela
curva de adesão a nova tecnologia.
Nos EUA, o switch off foi
adiado diversas vezes. No Brasil, um pais com dimensões continentais, precisamos “profissionalizar” o governo para
essa questão, ou seja, é preciso que um grupo de estudo levante os principais
temas e conseqüências advindas do switch off e entregue esse estudo ao governo
para que ai sim ,um plano e uma agenda realista possa ser escrita.
Com relação ao
calendário do Switch Off, o que se avançou em 2012 e o que esperar para 2013?
Bom, em 2012 o secretário de Serviços de Comunicação
Eletrônica do Ministério das Comunicações (Minicom), Genildo Lins, e a diretora
de outorgas do Minicom, Patrícia Ávila,
anunciaram em primeira mão no do Congresso da Sociedade de Engenharia de
Televisão (SET),de que o Ministério das
Comunicações, decidiu por uma transição escalonada, acelerando o apagão
analógico nas regiões em que a TV digital está mais evoluída.
Ao invés de todos os transmissores serem desligados em
2016, haverá antecipação em algumas grandes cidades e postergamento em
pequenas. Isso claramente falando ocorreria em março de 2015 na região
metropolitana de São Paulo, e depois da Grande São Paulo, o governo pretende
também promover o apagão analógico, ao longo de 2015, em Brasília, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e, no
final do ano, em todas as capitais do Nordeste.
Isso não resolve todo o problema do switch off, falta por
exemplo um trabalho de subsidio ao receptores digitais, as medidas tomadas até
agora de incorporar os receptores aos televisores abrange apenas uma pequena
parcela da população que pode comprar aparelhos novos, e praticamente exclui
todos os demais.
Se olharmos para o mundo ao nosso redor, veremos que nos
EUA, parte do dinheiro arrecadado com a venda do espectro de 700 MHz para LTE
foi usado como subsídio para abaixar os preços dos conversores, na Argentina o
governo tem distribuído receptores digitais como forma de alavancar a adesão a
nova tecnologia, e aqui o que temos feito ... ?
Qual sua
opinião sobre o posicionamento do Ministério das Comunicações em relação ao
legado que fica da TV Analógica?
Está claro que o governo iniciou uma corrida contra o
tempo para “limpar” a faixa dos 700Mhz, hoje ocupada pelos sinais de TV
analógica especialmente nas grandes
cidades. Segundo o MiniCom, são quase
1062 cidades que precisarão ter a TV
aberta analógica “desligada” para dar espaço para a banda larga LTE. Mas essa necessidade de limpeza não pode ser feita em prejuízo de uma parcela
da população, então independente do posicionamento do MiniCom, é importante que
a sociedade como um todo se una para garantir que ninguém seja prejudicado em
detrimento desse ou daquele setor . Pois no final quem paga a conta é sempre o
usuário final.
Qual sua
opinião sobre o anuncio da possibilidade de interferências entre a transmissão
da TV Digital e da faixa de frequências para o 4G/LTE?
Interferencia em TV Digital significa “sem imagem” não
temos meio termo, não há “fantasmas ou chuviscos” e isso precisa ficar bem
claro para a população, dessa forma é de
suma importância que estudos do grupo de trabalho formado pela SET, sejam
realizados o mais rápido possível, para termos uma fotografia do que realmente
é possibilidade de interferência e o que já é um problema real. O Japão tem relatado grandes problemas de
interferência mutua entre os serviços de LTE e TV Digital, o que é uma
grande indicio de que aqui não será diferente.
Não acredito que o problema seja só este, como disse,
países na Europa e o próprio Japão tem sofrido
problemas de interferência mutua. Estudos demonstram claramente que, em áreas densamente povoadas,
como o interior de São Paulo, sem um plano de canalização não otimizado para a TV digital, e ainda com um excesso de
estações em SFN (Single Frequency Network) operando na mesma frequência, geram
a possibilidade de interferência que
impactam na cobertura, isso falando apenas da interferência entre canais
digitais. Outros estudos apontam ainda a
interferência dos sinais WiMax e LTE sobre o sinal da TV Digital.
O que precisamos é de mais tempo para realizar testes e
conhecer quais é o real potencial dessas interferências sobre a transmissão do
sinal digital, lembrando ainda que isso é importante também para as teles, pois
em muitos casos os sinais tendem a se anular e no final quem sofre é o usuário,
que ficaria em tese sem TV e sem 4G.
Não temos problemas de tecnologia, os problemas hoje se
concentram em uma curva de adesão muito baixa de TV Digital pela população,(
uma pesquisa realizada pela Nielsen, aponta que só na cidade de são Paulo o
desconhecimento da existência de canais digitais chega a 40 por cento) e isso o
Modulo de Promoção do Forum tem feito um grande esforço para reverter. O
segundo problema é a chamada interiorização do sinal digital, considerando o
fato de que a maioria das retransmissoras das pequenas cidades é bancada pelas
prefeituras,e que a maioria não tem dinheiro para fazer a troca de 7 mil
transmissores até 2016, precisamos urgentemente de um plano de subsídios do
governo para que isso ocorra, talvez usar parte dos recursos do leilão da faixa
de 700 MHz como forma de financiamento da migração dos sistemas analógicos para
a TV Digital dessas prefeituras. O processo de digitalização da TV está indo
bem na parte de transmissão, tem pouquíssimas pendêncis graças as emissoras que fizeram alto
investimento e se comprometeram. De acordo com a Anatel, em maio 2012, 89.2
milhões de pessoas (o equivalente a 46,80% da população brasileira) estão
cobertas pela TV Digital. Ao todo são 31.3 mil domicílios, em 508 municípios.
Agora o foco deve ser a interiorização do sinal e ai o governo precisa entrar
com a sua parte.