Figurando
como principal destaque do segundo dia de programação do SET e Trinta, o painel
“O Futuro da TV: A TV tem futuro?” trouxe um debate de alto nível sobre todas
as tendências que o broadcasting passará pelos próximos anos. Moderado por
Fernando Bittencourt, a sessão levantou questões sobre a largura do espectro,
modelo de negócio híbrido e como a evolução dos sistemas VOD devem interferir
na forma de fazer televisão.
Philip
Laven, da EBU/FOBTV abriu a palestra com uma perspectiva interessante sobre as
visões para o futuro do broadcast. “De fato é bastante fácil prever o que vai
acontecer, o problema é descobrir quando vai acontecer” brincou enquanto exibia
um anúncio de jornal dos anos 40 que mostrava uma mulher fazendo compras em uma
TV de tela plana.
Em
seguida Laven apresentou uma série de estatísticas relativas ao mercado
europeu. De acordo com os dados, 93% da audiência broadcast do velho mundo esta
voltada para produções ao vivo. O restante fica dividido entre programação
gravada (5%) e VOD (2%). Em seguida apresentou dados bastante reveladores sobre
o BBC iPlayer. “A maioria das empresas que trabalham em Over the Top não
divulgam informações estatísticas de seus serviços, como número de usuários,
picos de consumo e tipos de programa, mas a BBC é uma exceção”, afirmou.
O BBC
iPlayer é um serviço de VOD e Streaming da programação de Rádio e Televisão da
emissora inglesa lançado em 2008 e que é bastante popular no país. De acordo
com o relatório, cerca de 88% do conteúdo buscado no serviço para programação
de TV é para programação On-Demand, e o restante para live streaming. Já para
rádio a situação é inversa: 81% fica por conta do live streaming.
Outras
duas estatísticas bastante importantes para os broadcasters são sobre a real
dimensão de alcance destes serviços. “Enquanto o canal de TV tradicional tem um
pico de audiência de 27 milhões de pessoas, o iPlayer alcança 700 mil”, contou.
Afirmando ainda mais a contra-tendência, os dados de custos trouxeram mais
espanto: Enquanto o iPlayer corresponde a 2% de toda a audiência da BBC, ele
representa 12% de todos os custos.
“O
problema dos serviços baseados em internet é que seu crescimento exige
investimento em servidores e largura de banda, enquanto que o broadcast tem o
custo fixo independente do tamanho da audiência”, comentou Laven, e ainda
brincou “Se o broadcast tivesse sido inventado depois da internet, seu inventor
estaria rico agora”.
Topo
de definição
Em seguida foi a vez do representante da NHK Toru Kuroda falar sobre o
cronograma das pesquisas 8K da emissora japonesa. Batizado pela empresa como
SHV (Super High Vision), o projeto teve uma aceleração com relação às expectativas
iniciais. “Em 2016 começaremos as transmissões teste em 8K (a data anterior era
2020), em 2020 seremos capazes de transmitir abertamente em 8K e em 2030
teremos estereoscopia sem óculos e sem fadiga”, afirmou Kuroda.
Em
seguida o pesquisador ilustrou os equipamentos usados para a produção 8K, desde
o aparelho receptor com 33 milhões de pixels e áudio em 22.2, até as câmeras de
mão com capacidade 8K passando pelos equipamentos de transmissão. “Estamos
usando H.265 com um input de 7680×4320, 60Hz, 4:2:0, 10 bit de cor com 30 Gbps.
De
acordo com Kuroda, o Japão já está se preparando para fazer a transmissão de
SHV via Satélite, Terrestre (com uma reformulação do padrão ISDB-T), CATV e
também IP. Outro ponto importante destacado pelo pesquisador foi o plano de
usar o 8K para conteúdo exibido em aparelhos televisores e manter o conteúdo
Mobile em 2K.
Por
fim, Kuroda mostrou os resultados de um recente teste de transmissão, onde
conseguiram transmitir em SHV por uma distância de 27,3 km usando somente 6 Mhz
de largura de banda com o novo padrão ISDB-T. “Para completar, gostaria de
informar que os jogos olímpicos de Tokyo 2020 já devem ser transmitidos em
SHV”, concluiu.
Lobby
e Política
Por fim foi a vez de Michael McEwen, da NABA (North American Broadcasters
Association) tomar a palavra. A associação, que representa o interesse dos
radiodifusores do Canadá, Estados Unidos e México, abordou o futuro da
televisão na América do Norte, prevendo uma grande reformulação no padrão de TV
Digital do continente.
De acordo
com McEwen, a associação preparou um White Paper com as demandas de todos os
broadcasters do continente com os principais pontos para a evolução da
tecnologia broadcast. “Apresentamos este paper ao ATSC e o FOBTV. Qualquer
tecnologia que viermos a adotar precisa ser flexível, eficiente, escalonável e
preparada para o futuro”, comentou.
Entre
os principais pontos do paper estava a criação de um novo padrão de transmissão
digital, a necessidade de cooperação entre diversos setores da indústria para
agilizar a compatibilidade à este novo padrão, o padrão precisa ter capacidade
de meta-dados, interatividade, multiplataforma e image scaling. Outras
preocupações são a necessidade do padrão ser adaptável ao 4K e 8K e
interoperatividade entre o sistema, IP e LTE.
Para
concluir a palestra, Fernando Bittencourt questionou os palestrantes sobre a
crescente restrição de largura de espectro sofrido pelo broadcast em todo o
mundo. “Converso com muitas agências reguladoras ao redor do mundo e eles dizem
que tem muita dificuldade em decidir o que fazer com a disputa Teles vs.
Radiodifusores, eles tem medo de tomar a decisão errada. Então eles deixam o
dinheiro decidir, e sabemos o que acontece quando o dinheiro decide…” explicou
Philip Laven. “Os CEOs dos grandes grupos de broadcast precisam começar a fazer
o Lobby político para mudar isso, este assunto precisa sair da engenharia e ir
direto aos executivos, por que se não, acabará o broadcast”, concluiu.
Mais
uma vez as perspectivas sobre o futuro da televisão foram pauta no painel de
tecnologia do SET e Trinta, encontro da Sociedade Brasileira de Engenharia de
Televisão realizado durante a NAB 2014. Neste terceiro e último dia, o debate,
coordenado por Liliana Nakonechnyj, abordou a evolução do padrão ATSC, as
estatísticas da Segunda Tela e as problemáticas do espectro ao redor do mundo.
Quem
abriu o painel foi Rich Chernok, engenheiro da Triveni Digital e principal
responsável pelos grupos de estudo do ATSC 3.0. “Estamos buscando criar um
padrão que seja configurável, escalonável, eficiente, interoperável e
adaptável”, começou o especialista.
A
apresentação de Chernok trouxe então todas as premissas que se está levando em
conta para os debates da renovação do padrão. Dentre eles estão uma maior
capacidade de tráfego de dados, um PHY mais poderoso e robusto, flexibilidade
de uso do espectro, suporte para UHDTV, suporte para dispositivos móveis,
broadcast híbrido (radiodifusão e banda larga integrados) e áudio imersivo.
De
acordo com Chernok, três principais pontos têm sido os guias dos grupos de
estudo. O pesquisador afirmou que, não basta se preocupar com a tecnologia, mas
também garantir que o modelo de negócio do broadcast continue viável e que o
espectro da televisão continue protegido. “Nossos pilares são a especificação
técnica, o ponto de vista do negócio da televisão e o aspecto regulatório do
espectro”, afirmou.
Com
relação às novidades que o sistema deve apresentar, o que chama a atenção é a
inclusão do IP também como plataforma de entrega. “O ATSC 3.0 será o primeiro
padrão de TV Digital totalmente híbrido”, afirmou Chernok. Além deste destaque,
o pesquisador mostrou que o objetivo do sistema é ser UHD e HD, mas que as
ferramentas para transmissão em 8K estarão lá e que, além dos televisores
convencionais, os dispositivos móveis estão sendo levados em grande
consideração.
Por
fim, Chernok falou do áudio que deve permear o sistema. “Teremos ferramentas
como controle de diálogo, possibilidade de faixas alternativas, serviços de
assistência, idiomas extras, faixas para comentários, música ou efeitos
diferenciados, etc”, contou.
Dados
da segunda tela
Em seguida quem tomou o microfone foi Chuck Parker, presidente da Second Screen
Society. Em sua apresentação, Parker trouxe diversos dados estatísticos e
exemplos de cases e experiências que revelam o crescimento e importância que as
aplicações de segunda tela tem tomado dentro do setor broadcast.
“Segunda
Tela é sobre a geração dos Millennials (pessoas nascidas na virada do milênio),
que é quem está trazendo uma enorme transformação comportamental na forma de
consumir mídia”, começou Parker. Com isso em mente, diversas empresas tem
apostado em modelos de publicidade para segunda tela com o intuito de emplacar marcas
na mente da geração em formação.
Em
seguida, Parker trouxe uma série de estatísticas interessantes sobre o
comportamento de consumo do conteúdo em Segunda Tela. De acordo com o
presidente, hoje cerca de 40% dos vídeos do Youtube são assistidos em plataforma
Mobile, o que é uma grande quantidade se levamos em conta que só nos Estados
Unidos cerca de 46 bilhões de vídeos foram acessados em 2013.
“O
Audiovisual em Mobile é um mercado crescente. 65% dos proprietários de tablet
passam mais de uma hora por dia vendo vídeos em seus dispositivos”, explicou. E
não é só no consumo de conteúdo que os números estão crescendo. De acordo com
Parker, até 2016 a receita de publicidade dentro de dispositivos de segunda
tela deve crescer quase 40%, alcançando uma receita de US$ 10 bilhões somente
nos EUA.
Contraste broadcast
Após os debates sobre segunda tela, Simon Fell
tomou a palavra para gerar quase um choque ideológico. Isso porque o
representante do EBU fez uma apresentação para mostrar que o broadcast continua
sendo a forma mais relevante de consumir conteúdo audiovisual, independente das
novas tecnologias, e que por isso sua reserva de espectro RF deve ser
protegida.
“Já que
estamos falando de estatísticas aqui, eu também trouxe umas. Um estudo que
realizamos prevê que até 2020 cerca de 80% do conteúdo audiovisual ainda será
consumido de forma linear pela televisão”, começou o Fell. De acordo com o
especialista, hoje na europa, 46% das pessoas consomem televisão por recepção
terrestre, o que totalizam 275 milhões de habitantes. “Por isso que qualquer
decisão relativa ao espectro precisa ser muito bem pensada”, explicou.
Fell se
referia às recentes políticas de cessão de faixas de espectro para serviços de
internet móvel, que têm ganhado força em todo o mundo. “É preciso lembrar que o
sucesso de novas formas de comunicação, como a Segunda Tela, estão totalmente
ligadas à existência de transmissão linear ao vivo”, afirmou.
Outro
ponto tocado por Fell foi a real necessidade que as empresas de telecomunicação
têm de mais espectro. “Um estudo recente do EC (European Commission), mostrou
que 71% dos dados acessados por dispositivos móveis acontecem por redes Wifi.
Será que é preciso mesmo de tanta banda quanto as teles solicitam?”,
questionou.
O
especialista destacou ainda a questão da qualidade. De acordo com Fell, a
existência de um serviço de TV aberta de qualidade, força os serviços pagos a
serem ainda melhores, sem a TV aberta esta “concorrência” deixaria de existir.
“Há ainda a questão do preço versus banda. Hoje em Las Vegas um pacote com 4 Gb
de internet 4G custa 70 dólares. Um conteúdo HD do Netflix consome cerca de 2.4
Gb por hora. Há um grave problema de eficiência aqui”, concluiu.
Palavras do Fórum
Outra intervenção veio no fim do ciclo de
palestras. Desta vez, Roberto Franco, presidente do Fórum SBTVD pediu a palavra
para falar um pouco de tecnologia e das preocupações do broadcast no momento.
“Todos nós precisamos nos envolver mais com as questões relativas ao setor,
sobretudo ao próximo WRC 2015”, começou.
De
acordo com Franco, os radiodifusores estão pagando pela apatia política dos
últimos anos. “Em algum momento os broadcasters ficaram complacentes do que
estava acontecendo, uma espécie de síndrome do patinho feio com relação às
novas tecnologias”, afirmou Franco. “Esquecem porém, que as novas tecnologias
são muito legais, mas precisam do conteúdo que o broadcaster tem. Não tem
Segunda Tela sem a Primeira Tela”, explicou.
Por fim
Franco exaltou o modelo brasileiro de Televisão Digital. “Vivemos um momento
interessante por que os países que foram pioneiros na migração digital, agora
correm atrás de atualizar os seus modelos, enquanto que nós com o ISDB-T
estamos bem avançados e tranquilos. Nosso padrão já suporta todas estas
tecnologias”, afirmou. “Além disso vemos o Japão puxando o modelo para frente.
Acredito estarem no caminho certo ao fazerem a migração direto do 2K para 8K”,
concluiu.