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quinta-feira, 17 de abril de 2014

NOTAS DA NAB 2014 (Parte 2): Para aonde vai a televisão?









Figurando como principal destaque do segundo dia de programação do SET e Trinta, o painel “O Futuro da TV: A TV tem futuro?” trouxe um debate de alto nível sobre todas as tendências que o broadcasting passará pelos próximos anos. Moderado por Fernando Bittencourt, a sessão levantou questões sobre a largura do espectro, modelo de negócio híbrido e como a evolução dos sistemas VOD devem interferir na forma de fazer televisão.
Philip Laven, da EBU/FOBTV abriu a palestra com uma perspectiva interessante sobre as visões para o futuro do broadcast. “De fato é bastante fácil prever o que vai acontecer, o problema é descobrir quando vai acontecer” brincou enquanto exibia um anúncio de jornal dos anos 40 que mostrava uma mulher fazendo compras em uma TV de tela plana.
Em seguida Laven apresentou uma série de estatísticas relativas ao mercado europeu. De acordo com os dados, 93% da audiência broadcast do velho mundo esta voltada para produções ao vivo. O restante fica dividido entre programação gravada (5%) e VOD (2%). Em seguida apresentou dados bastante reveladores sobre o BBC iPlayer. “A maioria das empresas que trabalham em Over the Top não divulgam informações estatísticas de seus serviços, como número de usuários, picos de consumo e tipos de programa, mas a BBC é uma exceção”, afirmou.
O BBC iPlayer é um serviço de VOD e Streaming da programação de Rádio e Televisão da emissora inglesa lançado em 2008 e que é bastante popular no país. De acordo com o relatório, cerca de 88% do conteúdo buscado no serviço para programação de TV é para programação On-Demand, e o restante para live streaming. Já para rádio a situação é inversa: 81% fica por conta do live streaming.
Outras duas estatísticas bastante importantes para os broadcasters são sobre a real dimensão de alcance destes serviços. “Enquanto o canal de TV tradicional tem um pico de audiência de 27 milhões de pessoas, o iPlayer alcança 700 mil”, contou. Afirmando ainda mais a contra-tendência, os dados de custos trouxeram mais espanto: Enquanto o iPlayer corresponde a 2% de toda a audiência da BBC, ele representa 12% de todos os custos.
“O problema dos serviços baseados em internet é que seu crescimento exige investimento em servidores e largura de banda, enquanto que o broadcast tem o custo fixo independente do tamanho da audiência”, comentou Laven, e ainda brincou “Se o broadcast tivesse sido inventado depois da internet, seu inventor estaria rico agora”.
Topo de definição

Em seguida foi a vez do representante da NHK Toru Kuroda falar sobre o cronograma das pesquisas 8K da emissora japonesa. Batizado pela empresa como SHV (Super High Vision), o projeto teve uma aceleração com relação às expectativas iniciais. “Em 2016 começaremos as transmissões teste em 8K (a data anterior era 2020), em 2020 seremos capazes de transmitir abertamente em 8K e em 2030 teremos estereoscopia sem óculos e sem fadiga”, afirmou Kuroda.
Em seguida o pesquisador ilustrou os equipamentos usados para a produção 8K, desde o aparelho receptor com 33 milhões de pixels e áudio em 22.2, até as câmeras de mão com capacidade 8K passando pelos equipamentos de transmissão. “Estamos usando H.265 com um input de 7680×4320, 60Hz, 4:2:0, 10 bit de cor com 30 Gbps.
De acordo com Kuroda, o Japão já está se preparando para fazer a transmissão de SHV via Satélite, Terrestre (com uma reformulação do padrão ISDB-T), CATV e também IP. Outro ponto importante destacado pelo pesquisador foi o plano de usar o 8K para conteúdo exibido em aparelhos televisores e manter o conteúdo Mobile em 2K.
Por fim, Kuroda mostrou os resultados de um recente teste de transmissão, onde conseguiram transmitir em SHV por uma distância de 27,3 km usando somente 6 Mhz de largura de banda com o novo padrão ISDB-T. “Para completar, gostaria de informar que os jogos olímpicos de Tokyo 2020 já devem ser transmitidos em SHV”, concluiu.
Lobby e Política

Por fim foi a vez de Michael McEwen, da NABA (North American Broadcasters Association) tomar a palavra. A associação, que representa o interesse dos radiodifusores do Canadá, Estados Unidos e México, abordou o futuro da televisão na América do Norte, prevendo uma grande reformulação no padrão de TV Digital do continente.
De acordo com McEwen, a associação preparou um White Paper com as demandas de todos os broadcasters do continente com os principais pontos para a evolução da tecnologia broadcast. “Apresentamos este paper ao ATSC e o FOBTV. Qualquer tecnologia que viermos a adotar precisa ser flexível, eficiente, escalonável e preparada para o futuro”, comentou.
Entre os principais pontos do paper estava a criação de um novo padrão de transmissão digital, a necessidade de cooperação entre diversos setores da indústria para agilizar a compatibilidade à este novo padrão, o padrão precisa ter capacidade de meta-dados, interatividade, multiplataforma e image scaling. Outras preocupações são a necessidade do padrão ser adaptável ao 4K e 8K e interoperatividade entre o sistema, IP e LTE.
Para concluir a palestra, Fernando Bittencourt questionou os palestrantes sobre a crescente restrição de largura de espectro sofrido pelo broadcast em todo o mundo. “Converso com muitas agências reguladoras ao redor do mundo e eles dizem que tem muita dificuldade em decidir o que fazer com a disputa Teles vs. Radiodifusores, eles tem medo de tomar a decisão errada. Então eles deixam o dinheiro decidir, e sabemos o que acontece quando o dinheiro decide…” explicou Philip Laven. “Os CEOs dos grandes grupos de broadcast precisam começar a fazer o Lobby político para mudar isso, este assunto precisa sair da engenharia e ir direto aos executivos, por que se não, acabará o broadcast”, concluiu.

Desafios e oportunidades para a televisão

 

Mais uma vez as perspectivas sobre o futuro da televisão foram pauta no painel de tecnologia do SET e Trinta, encontro da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão realizado durante a NAB 2014. Neste terceiro e último dia, o debate, coordenado por Liliana Nakonechnyj, abordou a evolução do padrão ATSC, as estatísticas da Segunda Tela e as problemáticas do espectro ao redor do mundo.
Quem abriu o painel foi Rich Chernok, engenheiro da Triveni Digital e principal responsável pelos grupos de estudo do ATSC 3.0. “Estamos buscando criar um padrão que seja configurável, escalonável, eficiente, interoperável e adaptável”, começou o especialista.
A apresentação de Chernok trouxe então todas as premissas que se está levando em conta para os debates da renovação do padrão. Dentre eles estão uma maior capacidade de tráfego de dados, um PHY mais poderoso e robusto, flexibilidade de uso do espectro, suporte para UHDTV, suporte para dispositivos móveis, broadcast híbrido (radiodifusão e banda larga integrados) e áudio imersivo.
De acordo com Chernok, três principais pontos têm sido os guias dos grupos de estudo. O pesquisador afirmou que, não basta se preocupar com a tecnologia, mas também garantir que o modelo de negócio do broadcast continue viável e que o espectro da televisão continue protegido. “Nossos pilares são a especificação técnica, o ponto de vista do negócio da televisão e o aspecto regulatório do espectro”, afirmou.
Com relação às novidades que o sistema deve apresentar, o que chama a atenção é a inclusão do IP também como plataforma de entrega. “O ATSC 3.0 será o primeiro padrão de TV Digital totalmente híbrido”, afirmou Chernok. Além deste destaque, o pesquisador mostrou que o objetivo do sistema é ser UHD e HD, mas que as ferramentas para transmissão em 8K estarão lá e que, além dos televisores convencionais, os dispositivos móveis estão sendo levados em grande consideração.
Por fim, Chernok falou do áudio que deve permear o sistema. “Teremos ferramentas como controle de diálogo, possibilidade de faixas alternativas, serviços de assistência, idiomas extras, faixas para comentários, música ou efeitos diferenciados, etc”, contou.
Dados da segunda tela

Em seguida quem tomou o microfone foi Chuck Parker, presidente da Second Screen Society. Em sua apresentação, Parker trouxe diversos dados estatísticos e exemplos de cases e experiências que revelam o crescimento e importância que as aplicações de segunda tela tem tomado dentro do setor broadcast.
“Segunda Tela é sobre a geração dos Millennials (pessoas nascidas na virada do milênio), que é quem está trazendo uma enorme transformação comportamental na forma de consumir mídia”, começou Parker. Com isso em mente, diversas empresas tem apostado em modelos de publicidade para segunda tela com o intuito de emplacar marcas na mente da geração em formação.
Em seguida, Parker trouxe uma série de estatísticas interessantes sobre o comportamento de consumo do conteúdo em Segunda Tela. De acordo com o presidente, hoje cerca de 40% dos vídeos do Youtube são assistidos em plataforma Mobile, o que é uma grande quantidade se levamos em conta que só nos Estados Unidos cerca de 46 bilhões de vídeos foram acessados em 2013.
“O Audiovisual em Mobile é um mercado crescente. 65% dos proprietários de tablet passam mais de uma hora por dia vendo vídeos em seus dispositivos”, explicou. E não é só no consumo de conteúdo que os números estão crescendo. De acordo com Parker, até 2016 a receita de publicidade dentro de dispositivos de segunda tela deve crescer quase 40%, alcançando uma receita de US$ 10 bilhões somente nos EUA.
Contraste broadcast

Após os debates sobre segunda tela, Simon Fell tomou a palavra para gerar quase um choque ideológico. Isso porque o representante do EBU fez uma apresentação para mostrar que o broadcast continua sendo a forma mais relevante de consumir conteúdo audiovisual, independente das novas tecnologias, e que por isso sua reserva de espectro RF deve ser protegida.

“Já que estamos falando de estatísticas aqui, eu também trouxe umas. Um estudo que realizamos prevê que até 2020 cerca de 80% do conteúdo audiovisual ainda será consumido de forma linear pela televisão”, começou o Fell. De acordo com o especialista, hoje na europa, 46% das pessoas consomem televisão por recepção terrestre, o que totalizam 275 milhões de habitantes. “Por isso que qualquer decisão relativa ao espectro precisa ser muito bem pensada”, explicou.
Fell se referia às recentes políticas de cessão de faixas de espectro para serviços de internet móvel, que têm ganhado força em todo o mundo. “É preciso lembrar que o sucesso de novas formas de comunicação, como a Segunda Tela, estão totalmente ligadas à existência de transmissão linear ao vivo”, afirmou.
Outro ponto tocado por Fell foi a real necessidade que as empresas de telecomunicação têm de mais espectro. “Um estudo recente do EC (European Commission), mostrou que 71% dos dados acessados por dispositivos móveis acontecem por redes Wifi. Será que é preciso mesmo de tanta banda quanto as teles solicitam?”, questionou.
O especialista destacou ainda a questão da qualidade. De acordo com Fell, a existência de um serviço de TV aberta de qualidade, força os serviços pagos a serem ainda melhores, sem a TV aberta esta “concorrência” deixaria de existir. “Há ainda a questão do preço versus banda. Hoje em Las Vegas um pacote com 4 Gb de internet 4G custa 70 dólares. Um conteúdo HD do Netflix consome cerca de 2.4 Gb por hora. Há um grave problema de eficiência aqui”, concluiu.
Palavras do Fórum

Outra intervenção veio no fim do ciclo de palestras. Desta vez, Roberto Franco, presidente do Fórum SBTVD pediu a palavra para falar um pouco de tecnologia e das preocupações do broadcast no momento. “Todos nós precisamos nos envolver mais com as questões relativas ao setor, sobretudo ao próximo WRC 2015”, começou.
De acordo com Franco, os radiodifusores estão pagando pela apatia política dos últimos anos. “Em algum momento os broadcasters ficaram complacentes do que estava acontecendo, uma espécie de síndrome do patinho feio com relação às novas tecnologias”, afirmou Franco. “Esquecem porém, que as novas tecnologias são muito legais, mas precisam do conteúdo que o broadcaster tem. Não tem Segunda Tela sem a Primeira Tela”, explicou.
Por fim Franco exaltou o modelo brasileiro de Televisão Digital. “Vivemos um momento interessante por que os países que foram pioneiros na migração digital, agora correm atrás de atualizar os seus modelos, enquanto que nós com o ISDB-T estamos bem avançados e tranquilos. Nosso padrão já suporta todas estas tecnologias”, afirmou. “Além disso vemos o Japão puxando o modelo para frente. Acredito estarem no caminho certo ao fazerem a migração direto do 2K para 8K”, concluiu.
 

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